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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

As peças a serem mexidas no tabuleiro


Articulações, projetos que têm consistência e outros que são pura especulação. Este é o cenário após as eleições municipais com vistas ao embate eleitoral de 2014, que já começou
Fotos: Jornal Opção
Marconi Perillo, Iris Rezende e Paulo Garcia: nomes em evidência para a disputa ao governo
Cezar Santos
Prefeitos eleitos, o in­­teresse se volta para os projetos e possibilidades dos principais políticos na antecipação do pleito de 2014 — quando serão eleitos presidente da República, um senador, governador e deputados estaduais e federais. O que espera — ou o que pretendem fazer — alguns dos principais atores da política goiana, como Marconi Perillo (PSDB), Iris Rezende (PMDB), os prefeitos reeleitos Paulo Garcia (PT), Antônio Gomide (PT) e Maguito Vilela (PMDB), Vilmar Rocha (PSD), José Eliton (DEM), Vanderlan Cardoso (sem partido), Júnior Friboi (PSB), entre outros.

No que diz respeito aos prefeitos recém-eleitos, o na­tural é esperar que eles cumprissem o mandato, ou seja, que permaneçam onde estarão a partir de 1º de janeiro de 2013, quando se sentam no trono municipal. Mas em política nada é natural. Co­meçando, então, pelos prefeitos das principais cidades, será que em 2014 Paulo Gar­cia, em Goiânia, Antônio Gomide, em Anápolis, e Ma­guito Vilela em Aparecida de Goiânia vão continuar no comando de suas respectivas prefeituras? Pode ser que sim, pode ser que não.

Paulo Garcia, após a reeleição tranquila em que impôs uma derrota humilhante ao candidato de oposição, Jovair Arantes (PB), já é tido como um candidato natural do PT para o governo. Igualmente, o anapolino Antônio Gomide, reeleito de forma consagradora (com o maior índice proporcional no País, mais de 88,93% dos votos válidos), é citado até mesmo fora de seu partido como forte para a disputa o governo em 2014. Ma­guito Vilela, pelo PMDB, é um nome sempre em evidência. Se Iris Rezende não disputar o governo, por um mo­tivo ou outro, Maguito é, nes­te momento, o peemedebista que reúne as melhores condições para concorrer.

Naturalmente que nem Paulo nem Gomide nem Ma­guito admitam falar sobre candidatura ao governo sen­do eles próprios os possíveis candidatos. Mas será interessante observar como Paulo Gar­cia vai montar sua primeira equipe, contemplando o arco de aliança de praticamente uma dezena de partidos que lhe deu a vitória. O par­ceiro PMDB, que já tem espaço privilegiado, pode querer ainda mais e nesse caso pode pintar certa tensão. Paulo agora vai exercer um governo “dele”, mas a composição com o PMDB segue firme. Iris já disse em várias oportunidades que a aliança não era para apenas 2012.

Dificilmente Paulo Garcia sairia da prefeitura para disputar o pleito ao governo. Ele tem um acordo tácito com Iris. Paulo é conhecido por respeitar acordos e sua admiração por Iris chega quase à “adoração”. Portanto, Paulo vai estar na linha de frente na coligação PT-PMDB ao go­verno. E certamente, dando uma “força” ao projeto de Iris ser candidato, se esse for o desejo do ex-prefeito. E isso por uma causa simples: Paulo percebeu há muito que o PT, sem o PMDB (leia-se Iris), não se cria num projeto majoritário — pelo menos ainda não.

Antônio Gomide é outro nome do PT para a disputa em 2014. Ele se cacifou de forma irremediável com a reeleição em Anápolis. Em­bora diga que seu projeto é ficar quatro anos na prefeitura, os fatos podem levá-lo a rever o projeto. Curioso é que seu irmão, o deputado federal Rubens Otoni, que há anos acalenta a pretensão e trabalha para ser candidato ao governo, ficou para escanteio, foi “engolido” por Gomide. Um complicador para Otoni é que ele foi filmado em tenebrosas transações com Carlos Cachoeira. Numa campanha majoritária isso é munição farta para os adversários. Se Anápolis der um candidato ao governo, dificilmente será Rubens Otoni.   

Quanto a Iris Rezende, seu sonho de consumo é voltar ao Palácio das Esmeraldas, de preferência batendo Marconi Perillo, o adversário que o alijou dali, impondo-lhe as mais duras derrotas políticas no confronto direto, em 1998 e em 2010. Mas além da disputa ao governo, Iris poderá ser candidato ao Senado em 2014. O ex-prefeito tem o domínio absoluto do PMDB para se fazer candidato ao governo, mas não passaria por cima de tudo e de todos sem estar em sintonia fina com o PT estadual e com o Palácio do Planalto. E, diga-se de passagem, Goiás ganharia muito com Iris no Senado, pela história, pelo respeito que ele tem.

E Marconi? O governador já foi lançado à reeleição por alguns correligionários. O vice-governador José Eliton, por exemplo, há poucos dias disse alto e claro em entrevista ao Jornal Opção, que o tucano é o candidato da base para 2014. O secretário-chefe da Casa Civil, Vilmar Rocha (PSD), afirma o mesmo nesta edição. Neste momento, Mar­coni depende de recuperar sua aprovação, abalada com a CPMI do Cachoeira, em Brasília. Um dos objetivos da instalação da comissão, por sinal, foi justamente “pegar” Marconi, numa vindita do ex-presidente Lula.

Em que pese os contratempos causados pela CPMI, Marconi continuou trabalhando. Depois de um primeiro ano difícil, o tucano começou a deslanchar seu governo, está inaugurando obras aos montes e, se mantiver esse ritmo, chegará em 2014 com aprovação em alta, o que certamente o cacifará para a disputa à reeleição.

Que poderá ser pelo seu PSDB ou por outro partido. Sim, a possibilidade de Mar­coni deixar o ninho tucano é ventilada nos bastidores. O destino mais evidente seria o PSD, comandado em Goiás por Vilmar Rocha. Conspira para essa possibilidade o fato de estar muito boa a relação entre Marconi e a presidente Dilma Rousseff. Marconi precisa do governo federal para fechar bem sua gestão, por isso, seria coerente não entrar em rota de colisão com a presidente, o que fatalmente ocorreria se ele apoiar aberta e ostensivamente o senador tucano Aécio Neves, que deve ser o candidato de oposição a Dilma em 2014.

Nesse caso, no PSD Mar­coni estaria livre para apoiar a reeleição de Dilma, continuando a contar com as boas graças do governo federal e, consequentemente, se fortalecendo para a reeleição ao governo em 2014. O PSD nasceu em Goiás sob as boas graças de Marconi e se consolidou nestas eleições, com 21 prefeituras conquistadas.

Mas, e se Marconi não reunir as condições políticas para disputar a reeleição em 2014? Nesse caso, uma opção da base aliada seria o democrata José Eliton, o vice-governador, que já mostrou sobejamente ter tino político e administrativo. Eliton tem sido fidelíssimo a Marconi, o que conta ponto, é claro. Outros nomes jovens que podem ser trabalhados são os deputados Francisco Júnior e Thiago Peixoto, ambos do PSD.

Na composição da chapa majoritária marconista há um verdadeiro valete, o deputado Vilmar Rocha, que há muito não esconde de ninguém que quer disputar o Senado. Vil­mar é talvez o político goiano mais talhado para a chamada Câmara Alta. Tem cultura, traquejo e habilidade. Com a derrocada de De­móstenes Torres, Goiás perdeu uma referência política, espaço que Vilmar está apto a ocupar no Legislativo.
Terceira via não emplacou e é incógnita
Outros nomes importantes da cena goiana e que vêm trabalhando muito com vistas a 2014 são Vanderlan Cardoso e Júnior Friboi. Ambos apoiaram candidatos antigovernistas, se deram bem em alguns municípios, foram mal em outros. Os bastidores dão conta de uma possível aproximação de Vanderlan com Marconi. E a bolsa de especulação também coloca essa possibilidade para Júnior Friboi.

O fato é que por mais que Vanderlan e Júnior Friboi estejam se movimentando e tenham poder financeiro, até o momento não demonstraram poder de fogo para serem determinantes no processo. Darão força, muita força, numa aliança estratégica, ajudando a balança a pender para o lado em que estiverem. Vanderlan já foi testado nas urnas, em cargos executivos. Fez belas administrações em Sena­dor Canedo e obteve uma boa votação para o governo em 2010.

Friboi ainda não passou nes­te teste e está louco para fazê-lo. Quer ser governador e chegou a almejar ser ungido por todos os políticos, concorrendo sem adversários. Caiu na real e o choque de realidade é sempre bom para quem quer ter sucesso na política. Pelo trânsito que tem com o governo federal, Friboi certamente seria um quadro valioso para Goiás, se ocupar mandato. Resta saber se ele vai calibrar o tamanho do desejo com a estreiteza da realidade.

O fato mais curioso a unir Vanderlan e Friboi, com o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) e o ex-secretário Jorcelino Braga (PRP), foi a tentativa de lançar uma suposta terceira via na sucessão municipal em Goiânia, com o vereador Simeyzon Silveira (PSC) como candidato a prefeito. A votação de Simeyzon, como era esperada, foi miúda, com pouco mais de 65 mil votos, numa campanha digna, sem cair no folclórico. Mas não foi na candidatura de Simeyzon que essa terceira via plantou raiz. Nesse sentido, ela é uma incógnita para a sucessão estadual em 2014. A notar o que o comitê Van­der­lan-Friboi-Caiado-Braga vai fazer até lá.

Uma possibilidade forte é esse grupo se desfazer, porque lhe falta sustentação política. Vanderlan pode ir para o PRB e se aproximar de Marconi, por intermédio de Misael Oliveira (PDT), recém-eleito prefeito de Senador Canedo. Friboi está em aproximação com o PMDB, mas também pode se unir a Marconi, via Célio Silveira (PSDB). Portanto, terceira via como grupamento político não existe — aliás, nunca existiu. E expurgando Ronaldo Caiado e Jorcelino Braga, a tendência é adesão a um dos polos de sempre, Marconi ou Iris. 

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