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sábado, 22 de setembro de 2012

PASTO DO PEDRINHO: o “Coração Verde” de Catalão ainda pulsa!




 Prof. Ms. Gabriel de Melo Neto[1]
gabrieldemeloneto@gmail.com

São inúmeros os problemas que atualmente perturbam a vida dos moradores das grandes cidades brasileiras, trânsito caótico, violência, drogas, pessoas apressadas, o tempo que cada vez torna-se insuficiente, levando muitos ao stress, a depressão e a outros transtornos da vida moderna. Resolver essas múltiplas dificuldades é tarefa urgente que muitos acreditam ser impossível, mas será que com tanto desenvolvimento científico e cultural alcançado ao longo de milênios de história humana, em meio a tanto caos, soluções não sejam viáveis?
Catalão como uma cidade em franco processo de desenvolvimento econômico e significativo crescimento urbano, vive muitas experiências negativas presentes nos grandes centros. O trânsito é enlouquecedor, com pessoas aceleradas, buzinas e fumaça, falta de vagas para estacionamento, entre outros transtornos gerados pela postura de desrespeito praticada por muitos motoristas, mas principalmente pela falta de estrutura da cidade devido as deficiências no planejamento urbano, com carências no transporte público e o estímulo desenfreado ao consumo de veículos que tem ocorrido no país. É comum escutarmos de moradores de outras localidades maiores que “esta é uma cidade pequena com um trânsito de cidade grande”.
No processo de crescimento da malha urbana do município, percebe-se o lançamento de loteamentos de forma contínua, em verdade nos últimos anos foram raros os meses que não ocorreram a divulgação de um empreendimento imobiliário. Desta forma, nitidamente percebe-se o vigor da especulação imobiliária, que enriquece alguns em detrimento da grande maioria, em especial dos trabalhadores com baixa remuneração, pais e mães, chefes de família, que comprometem boa parte de suas rendas para o pagamento de aluguéis com valores abusivos.
Em relação as questões ambientais a preocupação também é alarmante, diante das consequências da combinação de diferentes fatores, como a presença de industriais com os seus passivos ambientais, da grande frota de veículos e da drástica redução das áreas verdes, intensificada nos últimos anos, gerando a impermeabilização do solo mediante calçamentos e edificações, a poluição atmosférica, a queda da umidade do ar, mudanças no micro clima local, entre outros transtornos que afetam toda a população.
Apesar de tal realidade, Catalão ainda conta com um diferencial desejado por muitas cidades que por falta de planejamento e pela ganância dos especuladores imobiliários destruíram as suas áreas verdes. Tratas-se de um importante espaço situado no “coração urbano”, conhecido por “Pasto do Pedrinho”. Responsável por inúmeros serviços que são prestados há 152 anos, através do escoamento da água da chuva, da garantia de uma melhor umidade do ar, sendo uma reserva de espécies da fauna e da flora do Cerrado, além da beleza cênica e do valor cultural que representa para as várias gerações da “Atenas de Goiás”.
Com o objetivo de garantir a defesa desse patrimônio, diante da possibilidade da destruição do mesmo, devido ao envio de um Projeto de Lei Municipal de autoria do Poder Executivo no ano de 2011, que propunha a mudança na condição da área de APP (Área de Preservação Permanente), conforme previsto no atual Plano Diretor, para APA (Área de Proteção Ambiental), com o provável objetivo de liberar o terreno para a implementação de projetos imobiliários, podendo ser desde loteamentos ou até a instalação de condomínios fechados. Na contraposição de tal proposta, pessoas dos mais diferentes setores da sociedade se uniram e por quatro vezes conseguiram derrubar o referido projeto de lei na Câmara de Vereadores, mostrando o desejo dos catalanos de nascimento e/ou de coração da criação do “Parque Ecológico Municipal no Pasto do Pedrinho”. Vontade que ficou comprovada em primorosa Audiência Pública recentemente promovida pelo Ministério Público do Estado de Goiás.
Mas para a surpresa dos defensores da qualidade de vida no município, recentemente a área foi comprada por um conhecido empresário do agronegócio do município. Que aceitou estranhamente, arrematar um terreno que conforme o Plano Diretor atual é uma APP, ou seja, um espaço protegido por lei, que não pode receber qualquer tipo de construção.
Será que o novo proprietário por já ter utilizado vastas áreas de cerrado para implantação de suas lavouras na zona rural de Catalão, sensibilizado com a situação de degradação ambiental existente no Brasil e com o grande debate sobre Desenvolvimento Sustentável que está ocorrendo devido a Rio + 20, resolveu realizar uma boa ação para a sociedade catalana, comprando a área remanescente do Cerrado, presente no Coração da cidade, para doar ao município com o objetivo da construção de um Parque Ecológico? Garantindo assim, uma melhor qualidade de vida para toda população, através da preservação integral da área e da instalação de equipamentos públicos de cultura, esporte, lazer e Educação Ambiental.
Contudo, caso seja de interesse do atual proprietário lotear o Pasto do Pedrinho e/ou realizar a construção de um condomínio, terá um difícil caminho pela frente, uma vez que a sociedade catalana, cada vez mais tem afirmado o desejo em ter naquele local a instalação de um Parque Ecológico. Sendo necessário além de modificar a opinião pública, alterar a legislação municipal, algo que já foi tentado por quatro vezes sem sucesso e conseguir também argumentos técnicos, científicos e legais que deponham contra os documentos produzidos por dezenas de professores, ambientalistas, pesquisadores, biólogos, engenheiros, arquitetos, entre outros profissionais renomados que estão acompanhado o destino do Pasto do Pedrinho.
Contamos assim, que o bom senso prevaleça, sendo respeitada a legislação em vigor, em especial os termos do Artigo 225 da Constituição Federal, no qual está escrito que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Catalão encontra-se em um momento crucial de sua história em que tem a oportunidade de garantir qualidade de vida em meio ao crescimento acelerado do momento, mostrando o grau de desenvolvimento cultural e sabedoria alcançados, nesta “Atenas de Goiás”. Conhecida também como a “Cidade das Flores” e que seja das árvores, dos pássaros, da qualidade do ar e do respeito ao Meio Ambiente, preservando essa dádiva do Cerrado de 53 hectares presente no centro de sua malha urbana, um verdadeiro Coração Verde, que ainda pulsa.



[1] Professor do Departamento de Geografia UFG/CAC e da Rede Estadual de Ensino de Goiás. Diretor da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) – Seção Catalão.



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